... da totalidade das coisas e dos seres, do total das coisas e dos seres, do que é objeto de todo o discurso, da totalidade das coisas concretas ou abstratas, sem faltar nenhuma, de todos os atributos e qualidades, de todas as pessoas, de todo mundo, do que é importante, do que é essencial, do que realmente conta...


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Em associação com Casa Pyndahýba Editora

Ano I Número 5 - Maio 2009

TUDA - pap.el el.etrônico

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Ano I Número 5 - Maio 2009
Releitura - Murilo Mendes

Murilo Monteiro Mendes, (13 de Maio de 1901, Juiz Fora, Minas Gerais, Brasil - 13 de agosto de 1975, Lisboa, Portugal). Aos 9 anos diz ter tido uma revelação poética ao assistir a passagem do cometa Halley. Uma nova revelação aos 16, ao assistir às apresentações do bailarino Nijinski no Rio de Janeiro. Foi de 1924 a 1929 que Murilo Mendes se dedicaou à sua formação cultural, assim como à luta contra a instabilidade profissional - foi arquivista no Ministério da Fazenda, funcionário do Banco Mercantil, inspetor de ensino, escrivão, e professor (lecionou na Universidade de Roma e na Universidade de Pisa). Publicou poemas em revistas modernistas como "Verde" e "Revista de Antropofagia", e seu primeiro livro "Poemas" sai em 1930. Seus livros foram largamente publicados por toda a Europa.

Canção do exílio

Minha terra tem macieiras da Califórnia
onde cantam gaturamos de Veneza.
Os poetas da minha terra
são pretos que vivem em torres de ametista,
os sargentos do exército são monistas, cubistas,
os filósofos são polacos vendendo a prestações.
A gente não pode dormir
com os oradores e os pernilongos.
Os sururus em família têm por testemunha a Gioconda.
Eu morro sufocado
em terra estrangeira.
Nossas flores são mais bonitas
nossas frutas mais gostosas
mas custam cem mil réis a dúzia.

Ai quem me dera chupar uma carambola de verdade
e ouvir um sabiá com certidão de idade!

O homem, a luta e a eternidade

Adivinho nos planos da consciência
dois arcanjos lutando com esferas e pensamentos
Mundo de planetas em fogo
Vertigem
Desequilíbrio de forças
Matéria em convulsão ardendo pra se definir.
Ó alma que não conhece todas as suas possibilidades,
o mundo ainda é pequeno pra te encher.
Abala as colunas da realidade,
desperta os ritmos que estão dormindo.
À guerra! Olha os arcanjos se esfacelando!

Um dia a morte devolverá meu corpo,
minha cabeça devolverá meus pensamentos ruins,
meus olhos verão a luz da perfeição
e não haverá mais tempo.